Jovem do Sertão de Pernambuco troca oficina mecânica por guerra e mostra cotidiano no front ucraniano: 'muitos não aguentam'

  • 20/09/2025
(Foto: Reprodução)
Soldado pernambucano conta porque foi servir na guerra da Ucrânia João Ferraz, de 28 anos, natural de Serra Talhada, no Sertão de Pernambuco, deixou a oficina mecânica que mantinha no Brasil para integrar uma brigada estrangeira na linha de frente da guerra na Ucrânia. Sem ter servido ao Exército Brasileiro, ele conta que o interesse surgiu acompanhando notícias e vídeos sobre o conflito desde o início, em 2022. Para se alistar, inscreveu-se em um site, passou por entrevistas, testes físicos e uma investigação social, até receber a carta-convite para viajar. “Sempre gostei de militarismo, esse foi um dos motivos. O outro é pelo que a Rússia vem fazendo, atacando cidades e matando muitos civis”, disse ao g1. No Instagram, onde soma mais de 33 mil seguidores, João publica registros da rotina no front. Na bio, aparecem uma referências à cidade natal (Serra Talhada), a expressão ucraniana “Slava Ukraini” (“Glória à Ucrânia”) e a identificação como integrante da Infantaria de Fuzileiros Navais do Exército Ucraniano. Um emoji de caveira, segundo ele, representa seu nome de guerra: “Cavêra”. João Ferraz, deixou o Brasil para ser combatente na Ucrânia Reprodução/Redes Sociais Entre o barulho de tiros e explosões, João também grava os próprios movimentos. Em alguns vídeos, segura o fuzil com uma mão e o celular com a outra. A guerra, explica, não tem rotina: um dia pode significar algumas horas de descanso; no outro, chega uma ordem inesperada de partir para uma nova missão. “Se cumprir a missão, deu certo. Se não der certo, não tem mais vídeo, não tem mais foto, não tem mais nada”, disse. O Soldado publica nas redes sociais vídeos gravados dentro dos combates Quando questionado sobre as maiores dificuldades, ele citou a exaustão física e mental. “Tem gente que surta, entra em pânico, não consegue lutar. Outros fogem. Muitos não aguentam. Éramos 29 brasileiros na brigada, agora restam 18”, contou. Os 11 companheiros que não estão mais na brigada fugiram ou se afastaram devido ao comprometimento da saúde mental. “Da minha equipe, até agora, graças a Deus, está todo mundo inteiro. Mas acredito que também porque chegamos faz pouco tempo, só uns quatro meses, e já houve muitas batalhas muito piores do que a que estamos enfrentando agora.” O contrato com o Exército Ucraniano é de três anos e só pode ser rompido legalmente após seis meses. Quem desiste antes precisa fugir para países vizinhos, como Polônia ou Moldávia, e procurar a embaixada brasileira. Deserção pode levar à prisão. A remuneração varia conforme a região de atuação. Em áreas seguras, o salário gira em torno de R$ 6 mil a R$ 7 mil por mês; em zonas de maior risco, conhecidas como “linha zero”, pode chegar a R$ 30 mil. “O salário é pago em duas etapas, bônus e salário base. Mas depende de onde você está”, explicou. O soldado deixou a família em Serra Talhada para servir militarmente ao país. A família, segundo João, ficou apreensiva com a decisão de ir para a guerra. “Quando disse que fui aprovado, foi pânico total. Mas converso com eles quase diariamente. Estão mais calmos, mas sempre preocupados.” João afirma que o medo existe, mas não pode ser prioridade no front. “Medo todo mundo sente. Mas aqui não tem espaço pra isso. Com medo, você não faz o que tem de ser feito.” Vídeo mostra os escombros de uma casa bombardeada na Ucrânia Apesar do risco, João diz estar feliz com a escolha e cogita seguir carreira militar na Ucrânia após o contrato. “Por incrível que pareça, estou feliz com minha experiência. Aprendi que devemos seguir nossos sonhos sem medo de dar errado ou de opiniões alheias.” Guerra entre Rússia e Ucrânia A guerra na Ucrânia começou em 24 de fevereiro de 2022, quando tropas russas invadiram o país vizinho. O conflito já deixou milhares de mortos, cidades inteiras destruídas e milhões de refugiados. O governo ucraniano, liderado por Volodymyr Zelensky, conta com apoio de países ocidentais como Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e França. Do outro lado, a Rússia, comandada por Vladimir Putin, mantém alianças com Belarus, Síria, Venezuela e Cuba.

FONTE: https://g1.globo.com/pe/caruaru-regiao/noticia/2025/09/20/jovem-do-sertao-de-pernambuco-troca-oficina-mecanica-por-guerra-e-mostra-cotidiano-no-front-ucraniano-muitos-nao-aguentam.ghtml


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